Pesquisadores afirmaram à agência de notícias AFP (Agence France-Presse) que o DOE (Departamento de Energia dos EUA) manipulou seus estudos em documento oficial que fundamentou a revogação de regulamentação sobre gases do efeito estufa. A declaração foi feita na 5ª feira (1º.ago.2025) por cientistas cujos trabalhos foram citados de forma imprecisa no relatório divulgado em 29 de julho.
A revogação da norma aconteceu após a publicação do documento elaborado por um grupo de trabalho que inclui John Christy e Judith Curry, cientistas que já foram ligados ao Heartland Institute, organização que frequentemente contesta o consenso científico sobre mudanças climáticas.
A AFP identificou citações imprecisas, análises incorretas e erros editoriais no documento publicado pelo DOE. O governo Trump utilizou o relatório para justificar a reversão de uma decisão criada em 2009, que estabelecia limites para emissões de gases causadores do efeito estufa nos Estados Unidos, enfraquecendo as políticas norte-americanas de combate às mudanças climáticas.
Benjamin Santer, cientista climático e professor honorário da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, disse à AFP: “O relatório distorce completamente o meu trabalho”. Ele explicou que uma seção do documento sobre o “resfriamento estratosférico” contradiz diretamente suas conclusões científicas.
Bor-Ting Jong, professora adjunta da Universidade Livre de Amsterdã, declarou à AFP: “Me preocupa que uma agência governamental tenha publicado um relatório destinado a informar o público e orientar políticas sem passar por um rigoroso processo de revisão por pares, ao mesmo tempo que interpreta mal diversos estudos que de fato passaram por esse processo”. Jong acrescentou que o relatório apresenta afirmações falsas sobre o modelo climático analisado por sua equipe.
James Rae, pesquisador do clima na Universidade de St. Andrews, na Escócia, considerou que a forma como o DOE passou a utilizar a pesquisa científica “é realmente alarmante”. Ele afirmou: “O DOE esteve na vanguarda da ciência por décadas. Esse relatório parece um exercício de estudante de graduação com o objetivo de distorcer a ciência climática”.
Esta é a 3ª vez desde janeiro, quando Trump assumiu a presidência, em que cientistas relatam à AFP que uma agência governamental norte-americana distorce pesquisas acadêmicas para justificar suas políticas. Em maio, a Casa Branca modificou um relatório sobre doenças que afetam jovens norte-americanos depois que se descobriu que o documento se baseava em estudos científicos inexistentes.
O relatório entrará em fase de consulta pública antes de sua publicação definitiva no registro federal, conforme informou um porta-voz do DOE à AFP.