A China aplicou novas restrições na 2ª feira (14.jul.2025) relacionadas à exportação de tecnologias essenciais usadas na produção de baterias de lítio –uma medida estratégica para proteger sua posição dominante na cadeia global de suprimentos de VEs (Veículos Elétricos).
O Ministério do Comércio e o Ministério da Ciência e Tecnologia atualizaram a lista oficial de controle de exportações da China, acrescentando processos avançados fundamentais para o desenvolvimento de materiais de bateria de próxima geração e para a extração de lítio.
A revisão faz parte do esforço de Pequim para apertar o controle sobre sua propriedade intelectual mais valiosa ligada às tecnologias de baterias para VEs. À medida que diversos países correm para construir indústrias de VEs independentes e reduzir a dependência da China, a nova restrição reflete a determinação chinesa em preservar sua liderança na inovação de baterias.
As medidas têm como alvo as tecnologias, e não os produtos acabados, o que significa que baterias e equipamentos produzidos na China ainda podem ser exportados livremente.
“Este ajuste é uma medida específica para responder ao cenário em evolução do desenvolvimento tecnológico doméstico e para melhorar a gestão do comércio de tecnologia”, disse um porta-voz do Ministério do Comércio. O objetivo, acrescentou, é “proteger a segurança econômica nacional e os interesses de desenvolvimento”.
Proposta para consulta pública no início deste ano, a lista atualizada abrange técnicas de fabricação para cátodos de LFP (sigla para fosfato de ferro-lítio) e LMFP (sigla para fosfato de ferro-lítio-manganês) –componentes-chave que determinam a densidade energética e a estabilidade das baterias. Também inclui uma variedade de métodos de extração de lítio, entre eles o processamento de espodumênio (um tipo de rocha dura rica em lítio) e a recuperação de lítio de salmouras.
As regras não impõem uma proibição total. Empresas chinesas que desejarem exportar essas tecnologias agora precisam solicitar licenças aos departamentos de comércio provinciais, que revisarão os pedidos com a participação de autoridades técnicas.
A lista destaca tecnologias de baterias de alto desempenho e da próxima geração ainda em fase inicial de comercialização. Por exemplo, diretrizes preliminares divulgadas em janeiro descrevem as tecnologias afetadas como aquelas que mantêm 97% da capacidade depois de 1.000 ciclos de carga –um critério que exclui designs mais antigos e voltados para o mercado de massa, segundo a CAPBIIA (sigla para Aliança de Inovação da Indústria de Baterias de Potência Automotiva da China), uma importante associação do setor.
Analistas afirmam que a política visa a criar um “fosso tecnológico” em torno das principais empresas chinesas de baterias. “Essa medida protege os fabricantes chineses contra vazamentos de propriedade intelectual, mantém a liderança tecnológica sobre concorrentes internacionais e sustenta a lucratividade de longo prazo por meio da inovação”, escreveu a empresa de pesquisa Gaogong Lithium Battery.
O domínio da China nesse setor decorre de um foco precoce na química LFP. Enquanto concorrentes nos Estados Unidos, no Japão e na Coreia do Sul priorizavam baterias de lítio ternárias de maior alcance, porém mais caras, líderes chineses como a CATL (Contemporary Amperex Technology Co. Ltd.) e a BYD Co. Ltd. refinaram as baterias LFP até torná-las seguras e com bom custo-benefício.
Inicialmente considerada uma tecnologia inferior, a LFP avançou rapidamente. Diante dos altos preços das matérias-primas, sua acessibilidade impulsionou a adoção em massa –as baterias LFP equiparam quase 75% dos novos VEs na China em 2024.
Concorrentes globais agora tentam alcançar os chineses: a LG Energy Solution da Coreia do Sul, por exemplo, só começou a produção em larga escala de LFP nos EUA em junho.
A China também se destacou como líder mundial no refino de lítio. Empresas domésticas dominaram métodos para extrair lítio de minérios de baixa qualidade e de fontes de salmoura com impurezas de magnésio –um desafio que incentivou a inovação local.
A CAPBIIA minimizou os efeitos de curto prazo das novas regras, observando que as tecnologias em questão ainda têm uso limitado. Além disso, as restrições não afetam as vendas de produtos acabados nem as colaborações internacionais.
Esta reportagem foi originalmente publicada em inglês pela Caixin Global em 16.jul.2025. Foi traduzida e republicada pelo Poder360 sob acordo mútuo de compartilhamento de conteúdo.