O economista e ex-presidente do BC (Banco Central) Armínio Fraga classificou como “uma barbaridade” e “um retrocesso” a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros imposta pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano). Segundo ele, o Brasil “entrou nessa história por um canal diferente” das demais nações: o político.
“O período de integração global vinha gerando bons resultados, mas recentemente tivemos a pandemia, a guerra na Ucrânia, eventos que deixaram as coisas mais conturbadas. Aí, chega o Trump e joga essa bomba protecionista, com ideias ainda não muito claras”, declarou em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo publicada neste sábado (2.ago.2025).
Trump assinou na 4ª feira (30.jul) um decreto formalizando a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros que entram no país. Foram excluídos do tarifaço 694 produtos. Suco de laranja, aeronaves civis e castanhas são exemplos.
Em comunicado, o governo norte-americano cita “perseguição, intimidação, assédio, censura e processo politicamente motivado” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dos motivos para a tarifa de 50%.
“Esse é um troço muito diferente: ele acenou com 50% de tarifa, que é muito e, para vários setores importantes, é fatal ou quase. E veio a lista de exceções. Está todo mundo respirando um pouco aliviado, mas ainda é um problema muito grande. Acho que o que diferencia o Brasil é o lado político. Isso está gerando repercussões aqui dentro”, disse Fraga.
O ex-presidente do BC perguntou o motivo pelo qual os EUA “têm que se envolver” no funcionamento da democracia brasileira.
“Ela é imperfeita, como todas, mas funciona. Tem um que reclama do Judiciário, outro que reclama do Supremo [Tribunal Federal]. Você pode ter a opinião que for, as razões são naturais, mas é o nosso [país]. Esse aspecto é pesado, não dá para aceitar”, declarou.
“Você pode discordar ou não do que está acontecendo no Supremo brasileiro, na atuação do ministro Alexandre de Moraes, mas isso é um problema nosso. Temo por um Supremo excessivamente ativista, mas isso não tem nada a ver com isso que está sendo feito [para justificar as tarifas], disse.
Ao falar das questões econômicas, Fraga afirmou que o Brasil pode melhorar em muitos aspectos. Disse que o país “está parado com muitos aspectos protecionistas”.
Ele declarou: “Eu defendo há décadas que o Brasil se engaje num processo de abertura comercial unilateral. Agora, acho que é preciso ter um pouco de paciência para tentar negociar o que for possível”.
Fraga disse não enxergar onde Trump quer chegar com a aplicação de tarifas para diversos países.
“Acredito que, na área política, ele não vai ter os seus desejos atendidos de jeito nenhum. Do lado econômico, curiosamente, alguns dos desejos eu sinceramente compartilho, porque acho que o Brasil é uma economia muito fechada. Então, se isso for algo que leve a uma abertura racional do país, pode ser gradual em algumas áreas, acho que vai ser bom para nós. E, se for bom para ele, tanto é melhor”, declarou.