• Quarta-feira, 16 de julho de 2025

Artistas PcD relatam falta de oportunidades na indústria fonográfica

Assim como no dia a dia, muitos artistas PcDs lutam contra o preconceito para conquistar um lugar no mercado da música

A é uma forma de arte muita pautada na voz e nas melodias, que, quando se tornam uma só, preenche o silêncio do ambiente. Entretanto, mesmo que não haja, em muitas oportunidades, uma produção imagética, os ainda lutam por um espaço ao sol e para garantir os mesmos direitos de um músico sem qualquer limitação física ou mental. Apesar de a inclusão ser uma pauta constante, é inegável que o preconceito esteve evidente, de forma velada ou explícita, neste mercado. Quantos Stevie Wonder’s, Billy Saga’s, André Bocelli’s ou Hebert Vianna’s, por exemplo, deixaram de aparecer por conta da exclusão dessas pessoas? Mesmo com essa situação, muitos artistas PcDs ainda tentam viver dessa arte. Em entrevista ao Metrópoles, e , ambos com deficiência visual e voltados ao rap, trap e reggaeton, compartilharam experiências e mostraram que esse universo musical, mesmo parecendo democrático, não segue essa premissa. “Acho que eles (as grandes cabeças da indústria) sabem da nossa existência, mas não dão o espaço necessário, pois não acreditam no nosso real potencial. E a gente sabe o nome disso, né?! Capacitismo”, disse o rapaz. 5 imagens Lara Lopes tem baixa visão, iniciou carreira na música erudita e hoje canta rap, trap e reggaetonO artista explicou que as empresas "definitivamente não" se movimentam para incluir artistas com PCDA cantora disse que já sofreu com essa falta de inclusão e que passou pro situações controvésas na carreiraJeff Nuno é empresário do mundo da músicaFechar modal. 1 de 5 Com baixa visão, Cauan Sommerfeld é trapper, rapper e ainda canta reggaerton Divulgação 2 de 5 Lara Lopes tem baixa visão, iniciou carreira na música erudita e hoje canta rap, trap e reggaeton Divulgação 3 de 5 O artista explicou que as empresas "definitivamente não" se movimentam para incluir artistas com PCD Reprodução/Instagram 4 de 5 A cantora disse que já sofreu com essa falta de inclusão e que passou pro situações controvésas na carreira Reprodução/Instagram 5 de 5 Jeff Nuno é empresário do mundo da música Divulgação Para Lara, essa situação ainda vai muito além das canções e chega a uma questão social. “A gente ainda tem muita invisibilidade em relação às pessoas com deficiência na sociedade no geral. Então, quando as pessoas com deficiência começarem a ser vistas pelo resto da sociedade como seres, como pessoas que trabalham e que podem exercer as mais diversas profissões, vai refletir na música automaticamente, porque as pessoas vão começar a procurar mais, vão começar a se interessar mais”, afirmou. Ela ainda explicou que os artistas também devem seguir tentando derrubar esses paradigmas e não se deixar levar por essas questões, “que são muito difíceis”. A cantora, inclusive, contou uma situação em que foi reprovada por uma banca por causa da postura no piano, que é diferente por não conseguir ler a partitura e, também, por não seguir o sistema de escrita: ela sempre decora as notas. Leia também Apesar da pregação relacionada à inclusão, Cauan relatou que as grandes empresas “definitivamente não” fazem qualquer movimentação para incluir os artistas PcDs e que, como o pai trabalhou em gravadora, sabe que alguns materiais não são nem analisados. Lara relembra que não é mais necessário ter uma gravadora para fazer sucesso e ter a arte compartilhada nos streamings e na internet como um todo, mas que é necessário uma boa distribuidora. “Espero que essa realidade das gravadoras mude e que elas despertem, porque, com certeza, tem muitos artistas com deficiência por aí, muito talentosos, que precisam de uma oportunidade de aparecer nas grandes mídias também.” “Arte é quebra de paradigmas” Graduado em música e marketing, o empresário Jeff Nuno atua no mundo da música e tem clientes que estão dos dois lados dessa moeda: artistas e gravadoras. Para ele, o mercado está mais aberto com relação à diversidade de sons, estilos e vozes, mas ainda está “arranhando a superfície”, já que as empresas são reativas e sempre optam pelo que está funcionando, sem se arriscar com muitas novas apostas. “Inclusão é você incluir pessoas que têm alguma dificuldade crônica, alguma dificuldade física, incluir elas dentro desse mercado. As grandes gravadoras não apostam porque ainda não veem um resultado de vendas grande. Quando a gente estiver com um monte de artistas fazendo isso e tendo resultado de vendas, você vai ver, todo mundo vai achar bonitinho e prospectar artistas com esse tipo de perfil para incluir no mercado”, avaliou. O especialista ainda afirmou que o preconceito nunca deixou de existir e foi para um outro lado, aumentando. “Isso vem disfarçado na estética comercial de ‘ah, é falta de oportunidade’, ‘não se encaixa no perfil’, ‘o público ainda não está pronto para isso’, esse tipo de coisa que é ‘elegante’ você falar, mas, na verdade, o que você está falando é ‘não queremos arriscar’ ou ‘não vamos arriscar’, ‘não queremos você’. O preconceito estrutural ainda molda o que é produzido, promovido e premiado.” Jeff opinou que a palavra inclusão está muito vulgarizada e ramificada, não sendo, assim, “verdadeiramente inclusão em si”. A palavra, segundo o empresário, é “reconhecer”, “apostar”, “acreditar neles” e “apostar no trabalho deles”. “Eu acho que o problema é que a sociedade pensa que os artistas devem estar adaptados ao padrão de perfeição estética e de performance comercial. Só que todo mundo se esquece de que a arte é a quebra desses paradigmas”, completou.
Por: Metrópoles

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