Anticorpo elimina totalmente o câncer em 80% dos pacientes com mutação
Estudo mostra que a imunoterapia com dostarlimabe levou à eliminação de cânceres em 84 de 103 pacientes com mutação genética específica
Uma nova abordagem de tratamento oncológico conseguiu eliminar completamente tumores sólidos em 80% dos pacientes com uma mutação genética rara. Os indivíduos, , ficaram livres da doença, sem necessidade de cirurgia.
O estudo, apresentado no prestigiado em 27/4 envolveu casos de câncer em diferentes órgãos. O tratamento, realizado por seis meses antes de qualquer intervenção cirúrgica, mostrou-se no reto, cólon, fígado, bexiga, esôfago, estômago, próstata e útero.
A estratégia utiliza o dostarlimabe, anticorpo que bloqueia a proteína PD-1, permitindo que o sistema imunológico reconheça mais facilmente e ataque as células tumorais. A pesquisa acompanhou 117 pacientes com cânceres em estágio inicial. Entre os 103 participantes que concluíram o protocolo, 84 não apresentaram vestígios detectáveis da doença.
Todos os pacientes tinham mutações de deficiência de reparo de mismatch (dMMR). A alteração dificulta o organismo na correção de erros na replicação de seu próprio DNA, aumentando o risco de alterações que levam aos tumores. Os pesquisadores, vinculados ao Memorial Sloan Kettering Cancer Center, dos Estados Unidos, estimam que de 2 a 10% dos cânceres estejam associados com a mutação, que é até duas vezes mais prevalente no câncer de reto.
Nova esperança para pacientes com câncer
No grupo com câncer retal, todos os 49 pacientes que receberam a imunoterapia apresentaram resposta clínica completa. Nenhum precisou ser operado, e 37 mantiveram ausência de sinais da doença por pelo menos 12 meses, critério utilizado para definir eficácia.
Do total de pacientes avaliados, a taxa de sobrevida livre de recorrência após dois anos foi de 92%, com média de acompanhamento de 20 meses. Apenas 5% dos casos apresentaram eventos adversos mais graves e ainda foi necessária a realização de cirurgia curativa com urgência.
Na segunda coorte, com 54 pessoas portadoras de outros tipos de tumores sólidos, 35 tiveram resposta completa. Destas, 33 optaram por seguir com acompanhamento sem cirurgia. Mesmo aqueles que não tiveram resposta total apresentaram redução no volume tumoral fazendo o tratamento com o dostarlimabe.
Bloquear proteínas como o PD-1 permite que as células de defesa do organismo identifiquem as células tumorais, especialmente aquelas que foram mutadas em consequência da dMMR, já que este tipo de tumor expressa muitas proteínas estranhas ao corpo, algumas não sendo identificadas pelo sistema imunológico.
Dostarlimabe, o anticorpo inovador
desenvolvido a partir de anticorpos de camundongo. Produzido em células de ovário de hamsters humanizados para a expressão das células, o fármaco já tinha aprovação para casos específicos de câncer de endométrio antes de ser testado em tumores sólidos dMMR.
Apesar dos resultados empolgantes, . Cada dose de dostarlimabe custa aproximadamente 30 mil reais e um ciclo completo de tratamento pode ser até 10 vezes mais caro. A empresa farmacêutica GSK, que comercializa o medicamento com o nome Jemperli, trabalha em parcerias para ampliar o acesso global.
O Jemperli foi aprovado no Brasil em 2022 para tratamento de pacientes adultos com câncer endometrial recorrente ou avançado com dMMR. Em maio do ano passado, ele passou a ser indicado também em combinação com a quimioterapia para pacientes com câncer de endométrio.
Limitações do uso
Especialistas alertam que os resultados são promissores, mas que a seleção dos pacientes é fundamental. A presença da mutação dMMR precisa ser confirmada por exames laboratoriais aprovados, e a resposta ao tratamento deve ser cuidadosamente monitorada.
A comunidade médica acompanha o desenvolvimento dos dados com cautela. Embora o sucesso em 80% dos casos represente um avanço significativo, estudos em larga escala serão necessários para determinar os limites da imunoterapia como tratamento único para câncer sólido.
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Por: Metrópoles