• Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Sífilis segue em alta no Brasil, apesar de ter prevenção simples

Mesmo com diagnóstico rápido e tratamento eficaz, falhas no cuidado e baixa percepção de risco mantêm a sífilis em crescimento no país

A causada pela bactéria Treponema pallidum, e que pode ser evitada com medidas simples, como o uso de preservativo e o diagnóstico precoce. Ainda assim, a doença continua avançando no Brasil, inclusive entre gestantes, grupo em que os riscos se estendem também aos bebês. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em outubro mais recente, mostram que o país registrou mais de 810 mil casos de sífilis em gestantes entre 2005 e junho de 2025. A maior concentração ocorreu na região Sudeste, seguida pelo Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste. Em 2024, a taxa nacional de detecção chegou a 35,4 casos por mil nascidos vivos, indicando o crescimento da transmissão vertical, quando a infecção passa da mãe para o bebê. Leia também Para o infectologista Guilherme Henrique Campos Furtado, do Hospital BP, em São Paulo, o avanço da doença revela que o problema não está na falta de diagnóstico ou de tratamento, mas em falhas ao longo do cuidado. Segundo ele, durante a gestação, a interpretação dos exames pode ser um desafio. “Os testes usados no pré-natal podem apresentar resultados baixos ou até negativos, o que leva à falsa impressão de que não há necessidade de tratar, mesmo quando a infecção está presente”, afirma. Quando o simples não funciona na prática Na avaliação do coloproctologista Danilo Munhóz, que atua em Brasília, o fato de a sífilis ter teste rápido e tratamento eficaz não garante, por si só, o controle da doença. “Para funcionar, é preciso que a pessoa perceba o risco, procure o serviço de saúde, faça o teste, receba o resultado, trate corretamente e, principalmente, que o parceiro também seja tratado”, ressalta. Ele destaca que os sintomas podem ser discretos ou inexistentes, o que atrasa a busca por atendimento. “Há vergonha, estigma, abandono do acompanhamento e muita reinfecção quando o parceiro não é testado. Isso mantém a cadeia de transmissão ativa”, explica. A infectologista Luiza Matos, de Brasília, reforça que a prevenção depende de três pilares básicos: camisinha, testagem regular e tratamento imediato, sempre incluindo os parceiros. De acordo com a médica, o preservativo segue essencial mesmo em relações estáveis, já que a infecção pode permanecer silenciosa por algum tempo. “Risco zero só existe com testagem atualizada e exclusividade real. Confiar apenas na sensação de segurança costuma atrasar o diagnóstico”, diz. Sinais que passam despercebidos e falhas no pré-natal A sífilis pode evoluir sem sintomas por longos períodos, o que dificulta a identificação precoce. O coloproctologista Danilo Munhóz explica que a manifestação inicial mais comum é uma ferida única e indolor na região genital, anal ou na boca, que desaparece sozinha. “Isso dá a falsa impressão de que o problema se resolveu”, alerta. Em fases posteriores, podem surgir manchas pelo corpo, febre baixa, mal-estar e aumento dos gânglios. Mesmo sem sintomas, a testagem é indicada após relações sem preservativo, troca de parceiros, e, de forma rotineira, durante a gestação. “No pré-natal, o teste precisa ser repetido mais de uma vez para proteger o bebê”, ressalta o médico. Luiza aponta que a persistência da sífilis congênita está ligada a falhas no acompanhamento das gestantes. “O início tardio do pré-natal, o atraso no tratamento e a falta de abordagem do parceiro são fatores decisivos. Quando a gestante trata e o parceiro não, a reinfecção pode acontecer rapidamente”, afirma a infectologista. Para ela, a persistência desses casos indica problemas de acesso e continuidade do cuidado, e não ausência de solução médica. Falsa sensação de segurança amplia o risco Mudanças de comportamento também pesam no aumento dos casos. Entre os jovens, os avanços no tratamento do HIV contribuíram para reduzir o medo das ISTs como um todo. “Isso diminuiu o uso do preservativo”, diz o infectologista Guilherme Henrique Campos Furtado. Já entre os idosos, o aumento da atividade sexual não veio acompanhado de práticas preventivas. “Muitos acreditam que não estão mais em risco”, completa o médico. Para os especialistas, o controle da sífilis passa por campanhas contínuas de conscientização, estímulo à testagem e reforço do uso do preservativo em todas as fases da vida.
Por: Metrópoles

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