• Terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Refit diz não ter vínculo com dinheiro e pedras preciosas apreendidos

Companhia diz que anotações na janela eram parte de mapeamento de empresas ligadas ao crime para evitar relações comerciais.

O Grupo Refit, investigado por fraude fiscal e lavagem de dinheiro, declarou que não tem “qualquer vínculo” com as pedras preciosas e com os mais de R$ 2 milhões em espécie apreendidos pela operação Poço de Lobato, deflagrada na semana passada.

“Os valores em dinheiro e os sacos de esmeralda apresentados pelas autoridades não foram encontrados em nenhum dos endereços vinculados à companhia”, afirmou o grupo em nota.

A operação realizada na última 5ª feira (27.nov.2025) cumpriu 190 mandados de busca e apreensão em 5 Estados –São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e Maranhão– e no Distrito Federal.

O objetivo da ação, segundo o Cira-SP (Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de São Paulo), é investigar suspeitas de sonegação fiscal, fraude estruturada e ocultação de patrimônio que podem ter causado prejuízo superior a R$ 26 bilhões aos cofres públicos.

O Grupo Refit, dono da antiga refinaria de Manguinhos, é considerado o maior devedor de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do Estado de São Paulo e um dos maiores da União.

Na 5ª feira (27.nov), foram apreendidos R$ 2 milhões em espécie em 2 endereços na capital paulista, além de 8 sacos plásticos com esmeraldas, avaliados em R$ 11.000 cada, em uma empresa localizada em Campinas, no interior de São Paulo.

A imprensa divulgou que integrantes do Grupo Refit faziam anotações em uma janela de vidro em um escritório na Cinelândia, no Rio. Nas imagens obtidas pelo Blog Octávio Guedes, é possível ver anotações citando operações, transportadoras, refinarias e investigados pela Justiça e autoridades.

Na espécie de lousa aparece, por exemplo, o nome do Beto Louco, investigado pelo MPSP (Ministério Público de São Paulo) por comandar um esquema do PCC (Primeiro Comando da Capital) no setor de combustíveis.

Acerca das anotações, o Grupo Refit disse que se trata “de um trabalho do setor de diligência da refinaria, dedicado a mapear, de forma preventiva, o histórico de distribuidores e redes de postos de combustíveis do mercado”.

Segundo a empresa, “essa prática é realizada frequentemente com o intuito de evitar que a Refit estabeleça relações comerciais com empresas envolvidas com facções criminosas e com práticas ilícitas, como adulteração de combustíveis”.

O Grupo Refit, que está em recuperação judicial, acumula dívidas bilionárias por falta de recolhimento de ICMS nos Estados de São Paulo e no Rio de Janeiro.

Os devedores contumazes, como o grupo, são o centro de um PLP (Projeto de Lei Complementar) que tramita no Congresso. O PT já sinalizou que a colocação em pauta do PLP nº 125, de 2022, aprovado no Senado em setembro, será uma prioridade desta semana.

O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), designou Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) para a relatoria do projeto.

No texto aprovado pelo Senado, torna-se devedor contumaz aquele que acumula uma dívida superior a R$ 15 milhões sem justificativa. O Fisco também ganha o poder de suspender o CNPJ de empresas classificadas como contumazes e paralisar suas atividades.

As empresas classificadas como contumazes passam a ficar proibidas de pedir recuperação judicial, de participar de licitações públicas ou de receber benefícios fiscais. Já as empresas “boas pagadoras” podem ter reduções de multas, advertências em vez de penalidade e prioridade em operações de caráter internacional, além de um bônus de adimplência fiscal.

A operação Poço de Lobato envolveu mais de 600 agentes públicos em uma ação conjunta do Cira/SP com a Receita Federal, a PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional), além das polícias Civil e Militar.

O Cira/SP é coordenado pelo governo de São Paulo e composto pela Sefaz/SP, pela Procuradoria Geral do Estado e pelo MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo). A ação também contou com apoio de comitês interinstitucionais de outros Estados e de grupos especiais de combate ao crime organizado.

Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou que medidas legais determinaram o bloqueio de mais de R$ 10 bilhões contra os integrantes do grupo econômico.

Durante as investigações a Sefaz/SP identificou que empresas ligadas ao Grupo Refit se colocavam como interpostas para evitar o pagamento do ICMS por causa do Estado. As irregularidades envolveriam repetidas infrações fiscais, uso de empresas ligadas entre si e simulação de vendas interestaduais de combustíveis.

As investigações mostraram também que os mecanismos de ocultação dos verdadeiros beneficiários foram realizados por meio de uma rede de colaboradores.

Foram usados expedientes como falsificações, estruturas societárias e financeiras em camadas, holdings, offshores, instituições de pagamento e fundos de investimento —mecanismos que, segundo a Receita Federal integravam uma estrutura “sofisticada” para lavagem de dinheiro e blindagem patrimonial.

“A Refit esclarece que não tem qualquer vínculo com os mais de R$ 2 milhões em espécie, nem são de sua propriedade as pedras preciosas divulgadas durante a Operação Poço de Lobato. Os valores em dinheiro e os sacos de esmeralda apresentados pelas autoridades não foram encontrados em nenhum dos endereços vinculados à companhia.

“Com relação às anotações encontradas em uma janela de vidro em um dos escritórios no Rio de Janeiro, se trata de um trabalho do setor de diligência da refinaria, dedicado a mapear, de forma preventiva, o histórico de distribuidores e redes de postos de combustíveis do mercado. Essa prática é realizada frequentemente com o intuito de evitar que a Refit estabeleça relações comerciais com empresas envolvidas com facções criminosas e com práticas ilícitas, como adulteração de combustíveis.

“A Refit monitora o percurso de todo combustível produzido em sua refinaria, desde o momento de transferência dos tanques de armazenamento até o destino final, nas bombas de combustível. Isso impede o abastecimento de postos que integram a lista restritiva interna da companhia.

“É justamente a partir desse monitoramento contínuo que a Refit frequentemente tem apresentado, nos últimos anos, denúncias aos reguladores, órgãos de fiscalização e polícia sobre práticas ilícitas no mercado de combustíveis.

“Tanto é assim que as próprias autoridades responsáveis pela Operação Poço de Lobato afirmaram, durante a coletiva de imprensa, que não encontraram qualquer indício de ligação da Refit com facções criminosas. 

“A companhia reforça que sempre atuou dentro da legalidade e mantém total disposição para colaborar com as autoridades em todas as etapas das investigações.”

Por: Poder360

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