• Terça-feira, 22 de julho de 2025

Possível ida de Filipe Martins aos EUA não motivou prisão, diz delegado

Para a PF, o ex-assessor de Bolsonaro forjou viagem ao exterior para dificultar investigação sobre tentativa de golpe.

O delegado da PF (Polícia Federal) Fábio Shor afirmou em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta 2ª feira (21.jul.2025) que a possível ida de Filipe Martins aos Estados Unidos com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não era o alvo da investigação que levou à prisão preventiva do ex-assessor internacional da Presidência em 2024. Segundo o delegado, Martins teria fingido ter viajado ao exterior para atrapalhar as investigações que apuram uma tentativa de golpe de Estado.

“Ele ter ido ou não aos Estados Unidos não é relevante. São os atos praticados por ele para ludibriar a investigação, além de atos de suspensão de provas para impedir a aplicação da lei penal”, declarou Shor à 1ª Turma do STF.

Bolsonaro viajou a Orlando –e levou uma comitiva presidencial– em 30 de dezembro de 2022. A PF usou uma lista de passageiros encontrada com Mauro Cid para embasar a prisão preventiva de Martins, argumentando que ele estava foragido.

Ao ser questionado pela defesa de Filipe Martins sobre as evidências que embasaram a prisão, o delegado afirmou que a PF identificou um registro de entrada nos Estados Unidos em 30 de dezembro, mesma data da chegada da comitiva presidencial ao país. Segundo ele, a informação levou à suspeita de que o registro teria sido forjado.

“Identificamos um registro de entrada nos Estados Unidos associado à comitiva presidencial. Foi utilizado um passaporte que o próprio Felipe Martins havia declarado como extraviado. Esse passaporte foi usado para entrar nos EUA no mesmo dia da chegada da comitiva. O registro no sistema norte-americano indicava hospedagem no mesmo hotel em que estava o então presidente Jair Bolsonaro. Tudo leva a crer que essa entrada nos Estados Unidos foi forjada”, disse Shor.

Ainda segundo o delegado, a PF observou o que considerou ser um comportamento anômalo do ex-assessor depois das eleições de 2022, como a ausência de movimentação de seus dados de localização (ERBs). Em novembro e dezembro de 2022, ele não era rastreável por sinais de celular e deixou de ser acompanhado por dados de localização, o que teria reforçado a suspeita de que ele estava tentando se esconder.

“O senhor Filipe Martins, no final de novembro e em dezembro, após as eleições […] nesse período, as ERBs deixaram de acompanhá-lo, o que indica que ele não estava portando o telefone celular com o número que era monitorado”, afirmou.

O tenente-coronel Mauro Cid e o diplomata André Chermont disseram ao STF que o ex-assessor internacional da Presidência não embarcou com Bolsonaro rumo aos EUA em 30 de dezembro de 2022.

Em 2022, Chermont era chefe do Cerimonial da Presidência. No cargo, era responsável pelo planejamento e execução da agenda oficial do presidente da República. Chermont é testemunha de defesa de Martins, réu do chamado núcleo 2 na ação penal que investiga a tentativa de golpe.

[Filipe] não constou na lista final e não era esperado que embarcasse, portanto, nesse avião. Ele chegou a fazer parte da lista, mas depois não estava mais previsto”, declarou o diplomata nesta 2ª feira (21.jul).

Já Mauro Cid deu seu depoimento ao STF em 14 de julho. O tenente-coronel também declarou que Filipe Martins nunca esteve na lista definitiva e que ele não estava no avião presidencial que decolou rumo ao país norte-americano.

Quando questionado pela defesa sobre por que não havia informado anteriormente aos investigadores da PF sobre o ex-assessor não estar no voo presidencial, Cid respondeu: “Porque não me foi perguntado”.

Filipe Martins foi preso em 8 de fevereiro de 2024, na operação Tempus Veritatis. Foi solto em agosto por determinação de Alexandre de Moraes. A defesa do ex-auxiliar presidencial sempre contestou a versão de que ele teria viajado com o ex-presidente.

A Polícia Federal nunca apresentou provas definitivas dessa viagem de Martins aos Estados Unidos. Ao contrário. A defesa do acusado mostrou evidências sobre ter ocorrido uma fraude em registros do que a PF dizia ser a entrada dele nos EUA.

A empresa aérea Latam emitiu declaração (íntegra – PDF – 88 kB) atestando que Martins embarcou de Brasília para Curitiba em 31 de dezembro de 2022 –o que derrubava a hipótese de ele ter saído do país no dia anterior.

A PF também argumentava, quando pediu a prisão de Martins, que ele estava foragido. Só que o ex-assessor estava no Paraná, em local conhecido e até publicava imagens em redes sociais. Ainda assim, a prisão foi decretada e o ex-assessor ficou por quase 7 meses preso.

O ministro Alexandre de Moraes, ao conceder a saída da prisão, mesmo tendo conhecimento de todas as evidências apresentadas pela defesa sobre o réu não ter fugido do país, decidiu impor as seguintes medidas cautelares:

Por: Poder360

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