• Terça-feira, 3 de dezembro de 2024

PM reformado réu no caso Marielle diz que trabalhava como segurança em igreja de Malafaia

A fala foi feita por Peixe durante interrogatório ao Supremo. Ele buscou explicar um relato anônimo feito ao Disque-Denúncia, incluído no relatório da Polícia Federal, segundo o qual Fonseca recolhia dinheiro da milícia da Taquara na igreja.

O policial militar reformado Robson Calixto Fonseca, o Peixe, acusado de participação na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), afirmou numa das audiências no STF (Supremo Tribunal Federal) do caso, em outubro, que trabalhou por mais de 20 anos numa igreja da família do pastor Silas Malafaia.

A fala foi feita por Peixe durante interrogatório ao Supremo. Ele buscou explicar um relato anônimo feito ao Disque-Denúncia, incluído no relatório da Polícia Federal, segundo o qual Fonseca recolhia dinheiro da milícia da Taquara na igreja.

"Eu trabalho nessa igreja desde 2003. Era do pastor Gilberto Malafaia, pai do pastor Silas Malafaia. Ele veio a falecer e o pastor Silas assumiu a igreja. Porém, eu não o conheço porque foi o filho dele quem assumiu a igreja, Silas Junior. Esse dinheiro era dinheiro do meu pagamento", disse Peixe.

"Em 25 de março [um dia após ele ser alvo de busca e apreensão], pastor Silas mandou me mandar embora, porque a sociedade já tinha me condenado da igreja na qual minha mulher e minha filha foi batizada."

O uso de PMs para a segurança de Malafaia está sob investigação da Corregedoria da corporação após a tentativa de assalto contra o pastor esta semana. Os agentes que trocaram tiros com os assaltantes, eram da ativa, o que tornaria a atuação deles irregular. Peixe é reformado em razão de uma trombose -policiais reformados pode trabalhar como seguranças privados.

Peixe é acusado de ter participado da entrega e da devolução da arma usada no crime, de acordo com a delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, réu confesso pela morte da vereadora. Ele trabalhava como assessor do conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão, acusado de ser o mandante do crime junto com o irmão, o deputado Chiquinho Brazão.

Procurado pela Folha em outubro, ao final do depoimento do PM reformado, Silas Malafaia confirmou ter orientado seu filho a demitir Fonseca.

"Meu pastor tem bola de cristal para saber se alguém está envolvido com o crime ou não? Qual é o problema? [...] Na hora que vi uma denúncia, qualquer pessoa de bem manda embora. Falei para o meu filho: 'Olha aí, tem uma denúncia desse cara. Manda esse cara embora'", disse o pastor na ocasião.
Ele disse que a igreja não faz parte de sua denominação, a Vitória em Cristo, sendo uma igreja independente sob responsabilidade de seu filho.

"Eu tenho várias igrejas. Se tiver um membro traficante, tiver um membro assassino, o que eu sou responsável por isso. Eu tenho mais de 500 funcionários nas igrejas. Se amanhã tem um cara que chefia o tráfico de drogas, o que eu tenho com isso? Simplesmente nada. E quando vem à tona algo para mim, eu demito e mando embora. Para mim não quer dizer nada", disse ele.

A igreja se tornou tema do processo porque a PF utilizou o relato anônimo ao Disque-Denúncia para reforçar a suposta ligação de Peixe com a milícia da região.

"Robson Calixto figura como miliciano em algumas notícias de fato encaminhadas pelo Disque-Denúncia, datadas de maio e junho de 2018, onde é apontado como o responsável por arrecadar valores auferido por grupo militar organizado do tipo milícia na região da Taquara. Tais relatos apócrifos o vinculam aos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão", diz o relatório.

Malafaia afirmou que cabe à PF provar o relato enviado ao Disque-Denúncia.
"Quer me envolver com uma porcaria dessa? Vocês estão de brincadeira. Eu tenho dignidade. Eu tenho história. Eu tenho moral, amigo. Relatório do inferno, do diabo que for! Não estou nem aí para eles", disse ele, em outubro.

O suposto envolvimento com milícias do PM integra a motivação descrita pela PF para a encomenda da morte de Marielle por parte dos irmãos Brazão.
Segundo a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), os dois decidiram matar a vereadora após uma série de divergências com o PSOL iniciadas em 2008, quando foi publicado o relatório da CPI das Milícias com citação a Domingos -ele não foi indiciado. Além disso, Marielle teria atuado de forma a prejudicar a exploração ilegal de terras na zona oeste por parte dos Brazão.

Em seu depoimento, Peixe negou pertencer a milícia. Disse que não conhece Lessa e afirmou não saber a razão pela qual foi citado na delação premiada do ex-PM.

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