Além da demora na descoberta, só metade dos pacientes negros recebem indicação para fazer os exames diagnósticos que ajudam na detecção de Alzheimer, contra 60% e 67% dos pacientes brancos e latinos, respectivamente.
A pesquisa que apontou a diferença de tratamento e acesso à população negra americana foi conduzida por Joshua Wibecan, radiologista no Centro Médico de Boston, em Boston (Massachusetts), e colegas.
Para avaliar a demora no diagnóstico desta que é a principal causa de demência, os pesquisadores fizeram dois cálculos: o primeiro, a probabilidade de um paciente que vem a ter um diagnóstico de Alzheimer receber a indicação de fazer um exame de ressonância magnética da cabeça (MRI), principal ferramenta usada para confirmar o quadro; o segundo, com qual idade aquele ou aquela paciente realizou o exame diagnóstico.
Foram incluídos no estudo 1.699 participantes que fizeram ressonância magnética da cabeça no centro médico de 1º de março de 2018 a 28 de fevereiro de 2022. A cor de pele e raça dos participantes era autodeclarada, sendo que 697 se declararam negros (afroamericanos), 377 brancos, 275 latinos ou hispânicos e 275 tinham outra etnia, classificados em conjunto como outros grupos.
Em média, os pacientes negros receberam o diagnóstico de declínio cognitivo associado a Alzheimer com 72,5 anos, contra 67,8 entre os brancos e 66,5 para os hispânicos e latinos.
Cerca de 50,9% dos pacientes negros fizeram a ressonância magnética para confirmar a doença, taxa que subiu para 60% entre os brancos, 67% entre hispânicos e 68,2% para os demais grupos étnicos.
Para Wibecan, o estudo indica tanto a demora na descoberta do declínio cognitivo nos pacientes negros quanto a falta de indicação para esse grupo populacional aos exames diagnósticos mais adequados.
"Primeiro, pacientes negros que receberam a indicação para MRI eram bem mais velhos do que os seus similares brancos ou hispânicos. Segundo, os pacientes negros recebiam bem menos a indicação de exame de imagem do tipo MRI, o mais indicado para a detecção correta de Alzheimer, em relação ao CT-Scan [outro tipo de exame menos indicado]", disse.
Apesar de ser importante a avaliação de um médico neurologista para a suspeita de Alzheimer, os exames de imagem ainda são os mais usados para confirmação do quadro de declínio cognitivo. Por essa razão, o atraso no diagnóstico pode levar a anos perdidos em que o paciente poderia receber um tratamento e até reduzir a progressão da doença.
"Se a desigualdade em obter exames de imagem cerebrais é uma das possíveis barreiras que atrasam o diagnóstico, é importante verificar isso e encontrar soluções para ajudar o paciente da melhor forma possível e evitar essa demora na detecção", afirma Wibecan.
Os autores do estudo concluem que novos estudos são necessários para entender as desigualdades raciais observadas e reduzir as barreiras associadas ao diagnóstico de pacientes negros no contexto americano.
O Alzheimer é o principal tipo de demência, correspondendo a 60% a 80% dos casos diagnosticados, e mais de 10 milhões de novos casos são identificados a cada ano em todo o mundo.
Segundo levantamento feito pela Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer) em setembro, há 1,7 milhão de pessoas vivendo com demência no país, e o Alzheimer corresponde a 55% dos casos (966.594).