Popular entre pessoas com dificuldade para dormir, pode não ser tão inofensiva quanto se imagina. Um novo estudo aponta que o uso prolongado do hormônio sintético está associado a um risco maior de insuficiência cardíaca, hospitalização e morte por qualquer causa entre pacientes com insônia crônica.
A pesquisa, que será apresentada na reunião científica anual da American Heart Association (AHA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, analisou cinco anos de registros médicos de 130.828 adultos diagnosticados com insônia, utilizando dados da TriNetX Global Research Network, uma base internacional de informações de saúde.
Entre os participantes, 65.414 haviam usado melatonina por pelo menos um ano e foram comparados a outro grupo com o mesmo perfil, mas sem registro de uso do hormônio.
Melatonina
A melatonina é um hormônio produzido naturalmente pela glândula pineal, responsável por regular o ciclo sono-vigília. Seus níveis aumentam à noite e diminuem durante o dia.
A versão sintética, quimicamente idêntica, é usada em suplementos para tratar insônia e jet lag.
Nos Estados Unidos, é vendida sem prescrição médica e não é regulada pela agência sanitária com o mesmo rigor aplicado a medicamentos, o que faz com que a potência e a pureza variem entre as marcas.
No Brasil, desde 2021, a substância é classificada como suplemento alimentar e pode ser adquirida sem receita.
Os resultados mostraram que, ao longo do período avaliado, os usuários de melatonina apresentaram uma probabilidade cerca de 90% maior de desenvolver insuficiência cardíaca em relação aos que não utilizavam o suplemento (4,6% contra 2,7%, respectivamente).
Também foi observada uma probabilidade quase 3,5 vezes maior de hospitalização por (19% contra 6,6%) e quase o dobro de risco de morte por qualquer causa (7,8% contra 4,3%).
“Os suplementos de melatonina podem não ser tão inofensivos quanto se costuma pensar. Se o nosso estudo for confirmado, isso pode mudar a forma como os médicos orientam seus pacientes sobre o uso de auxiliares do sono”, o médico Ekenedilichukwu Nnadi, residente chefe de medicina interna na SUNY Downstate/Kings County Primary Care, em Nova York, e principal autor da pesquisa.
Debate sobre o uso crônico
Para Marie-Pierre St-Onge, professora da Universidade Columbia e presidente do grupo de redação da declaração científica de 2025 da AHA sobre saúde do sono, os novos achados reforçam a necessidade de cuidado.
“Fico surpresa que médicos prescrevam melatonina por mais de um ano. Nos Estados Unidos, ela não é indicada para tratar insônia crônica e não deve ser usada continuamente sem acompanhamento”, afirma.
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A pesquisadora, que não participou do estudo, lembra que o sono saudável depende de múltiplos fatores, como hábitos, rotina e exposição à luz. “Tomar um hormônio sintético todos os dias não resolve o problema de fundo da insônia e pode trazer outros riscos à saúde”, acrescenta.

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Mais pesquisas são necessárias
Os pesquisadores destacam que o estudo é observacional e não comprova uma relação direta de causa e efeito. Isso significa que, embora o uso prolongado da melatonina tenha sido associado a desfechos cardíacos negativos, outros fatores podem estar envolvidos, como o uso de outros medicamentos para dormir, ou gravidade da insônia.
“Embora a associação que encontramos levante preocupações sobre a segurança da melatonina, são necessárias mais pesquisas para confirmar se o suplemento realmente afeta o coração”, disse Nnadi.
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