Marfrig e BRF marcam nova data de assembleia para discutir fusão
As assembleias de Marfrig e BRF sobre a fusão já foram adiadas duas vezes pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
Marfrig e BRF, dois gigantes do agronegócio brasileiro, anunciaram nessa terça-feira (15/7) uma nova data para suas Assembleias Gerais Extraordinárias (AGEs) .
A reunião dos acionistas da BRF foi marcada para o dia 5 de agosto, com início previsto para as 11 horas.
Os acionistas da Marfrig, por sua vez, se reunirão na mesma data, mas mais tarde, a partir das 15 horas.
pela Comissão de Valores Mobiliários (). De acordo com a autarquia, as duas empresas não haviam apresentado dados e informações suficientes a respeito dos critérios para a definição sobre a troca de ações, um dos pontos cruciais da possível fusão.
Acionistas minoritários alegam que os materiais divulgados tinham apenas projeções e premissas financeiras com tarjas pretas, o que impediria uma avaliação mais detalhada.
Na semana passada, a assembleia que estava marcada para o dia 14 de julho foi postergada por mais 21 dias após solicitações apresentadas pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e por um investidor ligado à família fundadora da Sadia.
Na última segunda-feira (14/7), a Previ anunciou que concluiu o processo de desinvestimento do plano de previdência privada na BRF, colocando um ponto final no ciclo de mais de 30 anos no ativo.
A notícia da saída do fundo da BRF impactou o desempenho das ações da companhia negociadas na Bolsa de Valores do Brasil (), que recuaram 4,5% – a maior queda do pregão na segunda-feira.
Longa novela
, mas a CVM solicitou mais informações sobre o processo de fusão e adiou o encontro.
Na ocasião, a CVM negou um pedido de cancelamento da assembleia, que havia sido apresentado pela Latache Capital, acionista minoritária da BRF, mas adiou a reunião por 21 dias – contados a partir da entrega das informações solicitadas.
A CMV não identificou elementos que justificassem a suspensão da assembleia, mas pediu esclarecimentos e novas informações sobre a fusão.
Ao apresentar o pedido de suspensão da assembleia, a Latache Capital afirmou que havia problemas como “insuficiência da documentação apresentada”, “ilegalidades na formulação da ordem do dia”, “ausência de independência dos membros de comitês alegadamente independentes”, entre outros.
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Minerva também contesta a fusão
No fim de junho, a Minerva Foods apresentou um recurso ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica () questionando a fusão entre Marfrig e BRF. .
No parecer enviado ao Cade, a Minerva alega que a aprovação da união dos negócios de Marfrig e BRF teria sido feita em rito sumário, sem considerar impactos importantes sobre a concorrência no setor, especialmente no mercado de alimentos processados.
Ainda segundo a Minerva, a fusão entre Marfrig e BRF levaria a uma concentração excessiva em diversos segmentos e aumentaria muito o poder de compra e o portfólio das duas empresas.
A Minerva também afirma que o Cade “estranhamente” teria ignorado os efeitos da fusão sobre o mercado de carne processada no canal food service – fornecimento para restaurantes, lanchonetes e redes de fast food.
“O mesmo Cade que impôs remédios estruturais à Minerva em 2014, quando comprou ativos da BRF, hoje ignora os riscos quando BRF e Marfrig se fundem”, diz o recurso da empresa.
A Minerva também contesta a atuação da Salic, fundo soberano da Arábia Saudita. A companhia afirma que o fundo já conta com 24,5% do capital da própria Minerva e, com a fusão, passaria a deter participação também na Marfrig – o que configuraria atuação cruzada e conflito de interesses.
Cade aprovou a fusão
No início de junho, .
De acordo com a área técnica do órgão regulatório, a participação conjunta de Marfrig e BRF nos mercados com sobreposição horizontal (em um mesmo segmento) ficaria abaixo de 20% – percentual a partir do qual se considera uma posição dominante – ou acima de 20%, mas abaixo de 50%.
Isso significa, no entendimento do Cade, que não há maiores riscos de um eventual exercício de poder dominante de mercado pelo comprador.
Ainda segundo os técnicos do Cade, a concentração ficaria abaixo de 30% em cadeia (mercados verticalmente integrados), o que afasta a possibilidade de haver prejuízos ao ambiente de concorrência.
A fusão Marfrig-BRF
, no dia 15 de maio, o que deu origem a um gigante com uma receita líquida consolidada de R$ 152 bilhões nos últimos 12 meses.
Com o nome MBRF Global Foods Company, a nova companhia será detentora de todas as marcas das duas empresas. A Marfrig, segunda maior produtora de carne bovina do mundo e líder na produção de hambúrgueres, propôs a incorporação da totalidade das ações de emissão da BRF, especializada em aves e dona da Sadia e da Perdigão.
A fusão ocorrerá por meio de troca de ações da BRF por papéis da Marfrig, que hoje é a maior sócia da companhia, detendo o controle com 50,49% de participação. Acionistas da BRF vão receber papéis da Marfrig e se tornarão sócios da MBRF Global Foods Company.
A relação de troca prevista na operação é de 0,8521 ação da Marfrig para cada papel da BRF. Ou seja: um investidor que possui 100 ações da BRF terá cerca de 85 papéis da Marfrig depois da conclusão do negócio.
Os acionistas da BRF e da Marfrig devem ser beneficiados com um pagamento significativo de proventos. A BRF vai distribuir até R$ 3,52 bilhões, e a Marfrig, R$ 2,5 bilhões.
Em relação às receitas e custos, a estimativa é alcançar R$ 485 milhões por ano, com expectativa de redução de despesas de R$ 320 milhões anuais.
Caso a fusão seja aprovada pelo Cade, a nova empresa deve tentar fazer a listagem de suas ações nos Estados Unidos, segundo executivos de Marfrig e BRF. A Previ, que conta com cerca de 6% do capital da BRF, e o Salic, o fundo soberano da Arábia Saudita, com 11%, apoiam a transação.
A união entre Marfrig e BRF talvez seja a mais expressiva de uma série recente de fusões do agronegócio, setor que tem impulsionado a economia brasileira nos últimos anos.
Em 2024, , de acordo com dados da KPMG. No ano passado, foram concluídas 12 operações, ante 5 em 2023 e 11 em 2022.
Por: Metrópoles