O pastor Silas Malafaia disse em áudio obtido pela PF (Polícia Federal) que foi o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quem “mandou” o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PL), negociar na embaixada americana sobre as tarifas de 50% impostas por Donald Trump ao Brasil.
A revelação contradiz o discurso público do clā bolsonarista, que criticou posteriormente a iniciativa do governador paulista.
O conteúdo foi divulgado nesta 4ª feira (20.ago.2025) quando a polícia indiciou Bolsonaro, Malafaia e Eduardo por coação na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.
“Presidente, você me desculpa, você podia até defender Tarcísio. Porque foi você que mandou Tarcísio na embaixada e falar com Gilmar. Agora, você queimar seu garoto? Aí não”, disse Malafaia.
O pastor defendeu que Bolsonaro deveria proteger Tarcísio, mas principalmente pediu para não atacar Eduardo, seu filho.
“Você batendo o teu filho que está fazendo um trabalho junto a autoridades, falando com os principais assessores de Donald Trump, conseguindo produzir isso tudo aí que o Trump está fazendo, aí você errou, mas errou feio”, criticou Malafaia.
Para o pastor, foi um “erro estratégico de alto grau” Bolsonaro criticar Eduardo, que está articulando as “negociações políticas” nos Estados Unidos.
A tensão no campo bolsonarista se intensificou depois da reunião de Tarcísio. A iniciativa provocou reação negativa entre apoiadores de Bolsonaro, que veem as tarifas como instrumento de pressão contra o STF (Supremo Tribunal Federal).
A tensão entre Eduardo chegou a acusar o governador de “desrespeito” por negociar diretamente com a embaixada americana, afirmando que ele e seus aliados são mais eficientes que o Itamaraty nas tratativas com Washington.
O relatório final da PF também detalha a atuação de Malafaia em conjunto com o grupo de Bolsonaro.
E os áudios revelam que o pastor prestava uma posição de “conselheiro”, descrevendo estratégias para evitar retaliações contra ministros e suas famílias.
Além da crítica sobre Tarcísio, Malafaia orientou Bolsonaro sobre estratégias de comunicação. O pastor sugeriu que o ex-presidente fosse mais seletivo na escolha de veículos para entrevistas e evitasse horários com menor audiência.
O pastor também recomendou que Bolsonaro gravasse vídeos atacando o ministro Alexandre de Moraes e a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente. “Você tem que meter o cacete, a lei manda cancelar uma delação quando ela não é mantida em sigilo”, afirmou.
O áudio foi obtido no âmbito das investigações da Polícia Federal que resultaram no indiciamento de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e do próprio Malafaia por coação no curso do processo.
A PF concluiu que o grupo praticou condutas para interferir na ação penal que apura a tentativa de golpe de 2022.
Segundo o relatório policial, Malafaia participou de ações coordenadas para coagir autoridades do Judiciário e do Legislativo. O pastor teria auxiliado Bolsonaro a descumprir medidas cautelares e orientado estratégias de pressão contra ministros do STF.
O caso agora seguirá para análise da PGR (Procuradoria-Geral da República), que decidirá se apresenta denúncia contra os investigados ou solicita o arquivamento do processo.