Sem citar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), e o tarifaço contra o Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 2ª feira (21.jul.2025) que a “extrema direita” usa o comércio como um instrumento de coação e chantagem.
“Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Promovem uma guerra cultural. E instrumentalizam o comércio como instrumento de coerção e chantagem”, declarou no evento “Democracia Sempre”, em Santiago, organizado pelo presidente do Chile, Gabriel Boric.
O presidente afirmou que “a extrema direita organizada internacionalmente oferece um novo consenso de Washington, ou melhor, dissenso de Washington: antidemocrático, negacionista e intervencionista”.
Ainda em seu discurso, Lula falou que as redes não podem funcionar como uma “terra sem lei”, onde “é possível atentar impunemente contra a democracia, incitar o ódio e a violência.” O presidente quer apressar a regulação das redes sociais, mas o texto ainda não chegou à Casa Civil.
Lula afirmou ainda que “o que é crime na vida real deve ser crime na vida digital” e que “a experiência brasileira mostra que o equilíbrio entre o poder constituído (…) são cruciais” para preservar a democracia.
Embora não tenha mencionado nomes diretamente, as recentes críticas de Lula têm como alvo o presidente dos Estados Unidos.
Trump anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, justificando a medida como resposta a uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) –réu em ação penal que investiga o núcleo central da tentativa de golpe de Estado em 2022.
O governo norte-americano cancelou o visto de entrada nos EUA do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, e de seus aliados, no mesmo dia em que Bolsonaro foi alvo de uma operação da PF (Polícia Federal). Os mandados foram autorizados pelo STF.
A ferramenta utilizada pelo Departamento de Estado dos EUA para suspender o visto do ministro é tradicionalmente aplicada a cidadãos de regimes autocráticos. Seu uso contra autoridades brasileiras, em um país considerado uma democracia, é algo incomum.
Lula também comentou a dificuldade crescente para realizar reuniões entre governos progressistas: “Antigamente a gente fazia reunião de governo de esquerda… está cada vez mais difícil.”
O encontro reuniu ainda os líderes da Espanha, Colômbia e Uruguai, além de representantes da sociedade civil e centros acadêmicos.
O encontro no Chile focou em 3 temas principais: defesa da democracia e do multilateralismo; combate às desigualdades; e regulação das tecnologias digitais para combater a desinformação.
Contudo, reafirmou seu vínculo com a base: “Quando eu deixar a Presidência, não vou para Paris, não vou para Londres, não vou para Nova Iorque. Vou voltar exatamente para a casa onde eu vivia antes de ser presidente da República”, declarou.