Implante de retina devolve parte da visão a pessoas com cegueira
Estudo europeu mostra que dispositivo devolveu a leitura e atividades do dia a dia a pacientes com cegueira causada pela degeneração macular
Pessoas que por degeneração macular relacionada à idade (DMRI) voltaram a enxergar parcialmente graças a um implante de retina desenvolvido por cientistas europeus.
O estudo, publicado nessa segunda-feira (20/10) na revista , mostrou que o dispositivo devolveu a capacidade de ler letras e palavras a pacientes antes considerados funcionalmente cegos.
O implante, do tamanho de uma ponta de caneta, é inserido abaixo da retina para substituir as células sensíveis à luz que foram perdidas pela doença. Um ano após o procedimento, 80% dos participantes apresentaram melhora clinicamente significativa na visão.
“Onde essa retina morta era um ponto cego completo, a visão foi restaurada. Os pacientes conseguiam ler, reconhecer palavras e retomar suas atividades diárias”, explicou o oftalmologista Frank Holz, que liderou a pesquisa na Universidade de Bonn, na Alemanha, em comunicado.
O que é a degeneração macular?
A DMRI é a causa mais comum de cegueira irreversível em idosos.
A DMRI seca é a forma mais comum da doença, caracterizada pelo acúmulo de depósitos amarelados sob a retina, o que causa perda gradual da visão central.
Nessa forma, as células fotossensíveis da retina morrem progressivamente, comprometendo a visão central, essencial para ler, dirigir e reconhecer rostos.
Estima-se que cerca de 5 milhões de pessoas no mundo tenham a forma avançada da condição.
Como o implante funciona?
Batizado de PRIMA, o implante é um microdispositivo fotovoltaico que transforma luz em sinais elétricos capazes de estimular diretamente os neurônios da retina, células que permanecem ativas mesmo após a perda dos fotorreceptores.
A tecnologia, desenvolvida pela empresa de neurotecnologia Science Corporation, com sede em São Francisco, é usada em conjunto com óculos especiais que possuem uma câmera embutida. As imagens captadas são convertidas em padrões de luz infravermelha e projetadas sobre o implante, ativando os pixels sensíveis à luz.
Por não possuir fios e usar a própria luz como fonte de energia, o PRIMA, segundo os autores, representa um avanço em relação às versões anteriores de próteses oculares. O sistema permite ajustar o contraste e o brilho e até ampliar o campo de visão, mas exige meses de treinamento para que os usuários aprendam a interpretar as imagens corretamente.
O ensaio clínico envolveu 38 avançada em 17 centros médicos de cinco países europeus. Após um ano, 26 delas conseguiram enxergar duas linhas a mais em um quadro de leitura oftalmológica. No total, 22 participantes relataram média ou alta satisfação com o dispositivo e passaram a utilizá-lo em casa para ler, identificar números e realizar tarefas cotidianas.
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Apesar do resultado promissor, Holz reconhece que a tecnologia ainda tem limitações. O implante atual possui apenas 381 pixels e oferece visão em preto e branco. A leitura é possível, mas lenta. Pesquisadores já trabalham em uma versão com resolução mais alta, que deve proporcionar imagens mais nítidas e coloridas.
“Com este primeiro grande avanço, abrimos caminho para melhorias futuras. É o início de uma jornada”, afirmou o oftalmologista.
Próximos passos
Os desenvolvedores do PRIMA solicitaram em junho a certificação para comercialização do dispositivo na Europa. O avanço foi elogiado por especialistas independentes, que o veem como um marco na recuperação visual.
“Este é um estudo empolgante e significativo. Ele traz esperança para pacientes para os quais a visão era algo mais próximo da ficção científica do que da realidade”, afirmou Francesca Cordeiro, oftalmologista do Imperial College London, à revista Nature.
Embora o dispositivo tenha sido testado em casos de DMRI, os pesquisadores acreditam que ele também poderá beneficiar pessoas com outras doenças que danificam os fotorreceptores, como a .
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Por: Metrópoles