• Sábado, 13 de dezembro de 2025

Guerras impulsionam receitas da indústria de armas em 2024

Relatório do Sipri registra US$ 679 bilhões em vendas, com alta ligada à guerra na Ucrânia e a conflitos regionais.

As empresas fabricantes de armas nunca faturaram tanto quanto em 2024, segundo relatório do Sipri (Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo).

As receitas com a venda de armas e serviços militares das 100 maiores empresas de armamento do mundo totalizaram US$ 679 bilhões no ano passado, o que representa um aumento de 5,9% em comparação com 2023, já considerada a inflação.

Em 2023, o aumento das tensões geopolíticas e, sobretudo, a guerra na Ucrânia já haviam elevado a demanda por armamentos, e essa tendência se acelerou ainda mais em 2024.

Para o setor armamentista, a guerra na Ucrânia “com certeza” é boa para os negócios, segundo o especialista do Sipri Nan Tian, um dos autores do relatório. “Nos últimos 2 anos, essas empresas aumentaram significativamente suas receitas”, afirma.

As cinco fabricantes de armamentos mais importantes do mundo, segundo as estatísticas do Sipri, são a Lockheed Martin (que fabrica os caças F-35), a RTX (antiga Raytheon Technologies, fabricante de motores aeronáuticos e drones), a Northrop Grumman (mísseis de longo alcance), a BAE Systems e a General Dynamics (submarinos nucleares e mísseis).

Com exceção da britânica BAE Systems, todas têm sede nos EUA. Esta é a 1ª vez desde 2017 que uma empresa que não tem sede nos EUA aparece entre as 5 maiores.

O braço militar do consórcio europeu Airbus ocupa a 13ª posição entre as 100 empresas de maior receita, enquanto a alemã Rheinmetall ocupa a 20ª.

Em 2024, 4 dessas cem empresas tinham sede na Alemanha: além da Rheinmetall, são elas a Thyssenkrupp, a Hensoldt e a Diehl. Juntas, elas tiveram receitas de US$ 14,9 bilhões. A Rheinmetall, por exemplo, registrou aumento de 47% na receita proveniente de tanques, veículos blindados e munições.

Das 100 empresas da lista, 39 estão sediadas nos Estados Unidos, que é, de longe, o país com o maior número. As empresas norte-americanas têm quase metade da receita mundial proveniente dos negócios com armas.

No entanto, seu crescimento anual de 3,8% é até modesto se comparado ao das 26 empresas europeias (excluídas as russas), que, juntas, registraram aumento de 13% na receita.

As empresas alemãs foram especialmente bem-sucedidas, com crescimento de 36%, o que se deve quase inteiramente à guerra na Ucrânia. A demanda por parte da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) aumentou, afirma Nan Tian. Empresas como a Rheinmetall e a Diehl fabricaram tanques, veículos blindados de transporte de pessoal e munição para substituir o que foi enviado como ajuda militar à Ucrânia e também para repor seus próprios estoques.

Rússia é listada separadamente no ranking do Sipri, e não surpreende que as empresas russas tenham tido um crescimento particularmente forte. Embora suas receitas de exportação tenham diminuído por causa das sanções internacionais, o aumento acentuado da demanda interna mais do que compensou as perdas.

Mas a Rússia é um caso especial, pois todos os recursos do país foram canalizados para o esforço de guerra. “O país mudou completamente suas prioridades. A economia se transformou numa economia de guerra nos últimos 3 anos”, declara Nan Tian.

A Rússia aumentou sua produção de projéteis de artilharia de 152 mm em 420% de 2022 a 2024, passando de 250 mil para 1,3 milhão, segundo o relatório do Sipri.

Mas, por causa das sanções internacionais, a indústria armamentista russa sofre com a falta de componentes importados, especialmente eletrônicos para aeronaves. No entanto, a expectativa de que a economia russa entraria em colapso por esse motivo provou-se falsa, diz Nan Tian: “O país certamente está numa situação muito pior do que estaria se não tivesse invadido a Ucrânia, pois nesse caso não haveria sanções. No entanto, a Rússia demonstrou grande resiliência diante das sanções e dos problemas econômicos”.

Nan Tian afirma que a transformação da economia russa foi tão acentuada que, se a guerra na Ucrânia acabasse, o país teria dificuldades para retornar a uma economia sem guerra.

As empresas asiáticas foram as únicas a apresentar receitas inferiores às de 2023, com destaque para a queda de 10% entre as empresas chinesas. Em nenhum outro país houve uma queda tão acentuada. Segundo Nan Tian, isso se explica pelas inúmeras denúncias de corrupção contra empresas chinesas de armamento, o que levou ao cancelamento ou adiamento de grandes encomendas.

Já as empresas do Oriente Médio registraram aumento de 14% na receita. Com 9 empresas, essa região nunca teve tantas listadas no relatório anual do Sipri. Três delas estão sediadas em Israel, com forte demanda por drones e sistemas de defesa aérea israelenses.


A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

Facebook | Twitter | YouTubeWhatsApp | App | Instagram | Newsletter

Por: Poder360

Artigos Relacionados: