• Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Gordura no fígado: estudo explica desenvolvimento em pessoas magras

Pesquisa mostra como falha genética altera hormônios, metabolismo e o desejo por açúcar em pessoas sem obesidade mas com gordura no fígado

Cientistas do centro de pesquisa biomédica City of Hope, nos Estados Unidos, usaram um distúrbio genético raro para entender melhor como o fígado acumula gordura e como hormônios podem influenciar o gosto por açúcar e álcool. O estudo foi publicado em novembro na revista científica . A pesquisa se concentra na deficiência de citrina, uma condição hereditária causada por uma alteração no gene SLC25A13. O gene é responsável por produzir uma para gerar energia. Quando a proteína não funciona, o metabolismo hepático fica comprometido. Leia também O que é a deficiência de citrina Pessoas com deficiência de citrina têm dificuldade em processar carboidratos no fígado. Isso acontece porque a célula não consegue transportar adequadamente as moléculas envolvidas na produção de energia, como o NADH, para dentro da mitocôndria — a “usina” da célula. Mesmo sendo, em geral, magras, essas pessoas podem desenvolver doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MASLD), condição caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado. Além disso, muitos pacientes apresentam algo incomum: Essas características chamaram a atenção dos pesquisadores, que decidiram investigar como um mesmo problema genético poderia levar tanto ao acúmulo de gordura no fígado quanto à rejeição ao açúcar. O que acontece no fígado quando o gene falha O estudo mostrou que a falha no gene SLC25A13 leva ao acúmulo de uma substância chamada glicerol-3-fosfato (G3P) dentro do fígado. Esse acúmulo ativa uma, que controla genes ligados ao metabolismo dos carboidratos. Quando o ChREBP é ativado, ele estimula dois processos importantes ao mesmo tempo. O primeiro é a produção de gordura no fígado, o que ajuda a explicar o desenvolvimento da esteatose hepática. O segundo é o aumento da produção de um hormônio chamado FGF21, liberado pelo próprio fígado. O FGF21 atua como um mensageiro entre o fígado e o cérebro. Segundo os cientistas, estudos anteriores já mostravam que esse hormônio pode reduzir o desejo por açúcar e álcool, além de influenciar o gasto de energia do organismo. Neste estudo, os cientistas observaram que níveis elevados de FGF21 ajudam a explicar por que pessoas com deficiência de citrina tendem a evitar doces e bebidas alcoólicas. Ou seja, o mesmo mecanismo que leva ao acúmulo de gordura no fígado também O que é gordura no fígado? Popularmente chamada de gordura no fígado, a esteatose hepática acontece quando as células do órgão acumulam gordura em excesso. Nos estágios iniciais, a condição costuma ser silenciosa e não apresenta sintomas evidentes. À medida que progride, porém, podem surgir dores abdominais na parte superior direita do abdômen, cansaço, fraqueza, perda de apetite, aumento do fígado, inchaço na barriga, dor de cabeça frequente e dificuldade para perder peso. As principais causas estão relacionadas à obesidade, à diabetes, ao colesterol alto e ao consumo excessivo de álcool. A doença é mais comum em mulheres sedentárias, já que o hormônio estrogênio favorece o acúmulo de gordura no fígado. Ainda assim, pessoas magras, que não bebem, e até crianças também podem desenvolver a condição. Para confirmar os achados, os pesquisadores usaram modelos experimentais, incluindo camundongos com alterações semelhantes às observadas na doença humana. Nesses modelos, foi possível ver claramente o aumento do G3P, a ativação do ChREBP, a elevação do FGF21 no sangue e o acúmulo de gordura no fígado — mesmo sem ganho de peso. Os resultados ajudam a esclarecer um ponto que parecia contraditório na ciência: o FGF21 pode aumentar tanto quando há excesso quanto quando há falta de carboidratos., mas sim o desequilíbrio no metabolismo hepático, que leva ao acúmulo de G3P. Esse mesmo mecanismo pode estar envolvido em situações mais comuns, como o consumo excessivo de álcool ou frutose, sugerindo que a via descoberta não se limita a uma doença rara. O que a descoberta pode mudar no futuro Embora a deficiência de citrina seja pouco frequente, os pesquisadores destacam que os mecanismos identificados podem ajudar a entender formas comuns de gordura no fígado, O estudo continua em desenvolvimento para no futuro concretizar novos tratamentos que atuem na via G3P–ChREBP–FGF21, seja para controlar a doença hepática gordurosa, seja para modular o apetite por açúcar.
Por: Metrópoles

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