CEO global da SIGA (Sport Integrity Global Alliance), o advogado Emanuel Macedo de Medeiros avaliou que a integridade é o eixo central de qualquer transformação no esporte. Em entrevista ao Poder360, defendeu que o Brasil precisa alinhar governança e profissionalismo para resgatar a credibilidade do futebol.
Medeiros é fundador da SIGA e afirmou que a organização –uma coalizão global e independente que atua para assegurar a integridade no esporte–nasceu em resposta a uma “crise sem precedentes” que abalou o sistema esportivo mundial. “Surgiu num período de trauma, depois dos escândalos que atingiram a Fifa e outras entidades. Havia um ambiente de desconfiança generalizado. O esporte precisava resgatar o seu bom nome”, disse.
O executivo concedeu entrevista a este jornal digital, em Brasília, em 23 de outubro de 2025. Assista à íntegra (36min26s):
Ao analisar os modelos internacionais, Medeiros destacou o contraste entre o avanço de países como a Arábia Saudita e o atraso estrutural do futebol brasileiro. “Enquanto a Europa e a Ásia avançam, o Brasil continua parado. Vimos a Arábia Saudita transformar o esporte numa aposta estratégica de desenvolvimento nacional. No Brasil, ainda convivemos com uma legislação anacrônica e uma governança que parece do século 19”, disse.
O executivo defendeu a revisão da Lei Geral do Esporte, aprovada em 2023, e classificou o texto como “uma manta de retalhos”. “A lei tem lacunas e incongruências. É preciso aperfeiçoar o diploma legal para que ele responda às necessidades e aspirações do esporte brasileiro”, afirmou.
O CEO da SIGA também ressaltou a importância de implementar critérios objetivos de fair play financeiro, inspirados nos modelos da Uefa. “Integridade financeira significa inexistência de dívidas com o Estado, atletas ou terceiros. Tudo isso interfere na concorrência leal. O fair play é essencial para um ambiente saudável”, declarou.
E completou: “Sem integridade não há confiança. Sem confiança não há paixão. E sem paixão não há futebol.”
O CEO explicou que a SIGA foi criada para estabelecer padrões universais de governança, integridade financeira e ética esportiva. Segundo ele, a organização atua como uma “vacina” contra a corrupção e a má gestão.
“Não se trata de reagir, mas de assumir um compromisso proativo de resgatar a credibilidade do esporte. O nosso papel é identificar boas práticas e apontar caminhos”, declarou.
Para Medeiros, a ausência de uma liga profissional de futebol é um dos maiores entraves à modernização do setor. “O que impede o Brasil de ter uma liga profissional? Falta uma estrutura autônoma, com critérios claros de participação, sustentabilidade financeira e governança. É um contrassenso um país que ganhou 5 Copas do Mundo ainda funcionar com um modelo do século passado”, disse.
O CEO da SIGA avaliou que o Congresso deve avançar na criação da Liga Brasileira de Futebol Profissional, proposta em discussão no Legislativo. “É uma necessidade imperiosa. O país tem paixão, talento e mercado. Falta apenas estrutura”, disse.
O CEO elogiou o avanço regulatório do governo brasileiro no setor de apostas esportivas. “O governo teve a lucidez e a ambição necessárias para regular definitivamente o setor. Fez isso de maneira exemplar. A regulação protege a integridade e garante segurança ao mercado”, afirmou.
Em contraponto, citou o exemplo dos Estados Unidos, onde as ligas começaram a enfrentar escândalos de manipulação de resultados. “Ligas que se diziam imunes estão sendo confrontadas com ameaças constantes. Houve ganância e negligência. Faltou integridade na base da legislação”, disse.
A SIGA mantém no Brasil uma parceria com o São Paulo Futebol Clube, que aderiu ao programa de governança e integridade da organização. “O São Paulo foi pioneiro e tem sido uma força liderante. Já organizamos duas edições do Sports Integrity Forum com o clube, reunindo especialistas e dirigentes do mundo inteiro”, contou.
Medeiros convidou outros clubes e federações a adotarem os padrões universais da SIGA. “Assim como ninguém entra num avião sem saber se ele é seguro, nenhum gestor deveria conduzir um clube sem garantir padrões de integridade”, afirmou.
Medeiros também destacou o pilar de equidade de gênero da SIGA, chamado SIGA Women, que reúne mais de 300 participantes em programas de mentoria. “Não se pode falar de boa governança sem igualdade de oportunidades. Defendemos paridade total: 50% de homens e 50% de mulheres. E criamos condições reais para que jovens tenham oportunidades de liderança”, declarou.
Segundo o executivo, o projeto já impactou centenas de mulheres no esporte. “O poder do exemplo é transformador. Não é uma profissão, é uma missão. E quem corre por gosto não cansa”, concluiu.





