A denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que baseou a operação Contenção nos Complexos do Alemão e da Penha na 3ª feira (28.out.2025) revelou práticas de tortura, treinamentos com armamentos pesados e ostentação de armas e dinheiro pelos integrantes da organização, além de denunciar 68 pessoas acusadas de integrar o CV (Comando Vermelho).
Segundo a Folha de S. Paulo, que obteve o documento, a denúncia expõe o funcionamento interno da organização criminosa, apresentando evidências de uma estrutura hierárquica bem definida. Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, e Pedro Paulo Guedes, o “Pedro Bala”, foram identificados como os principais comandantes.
O documento aponta que Carlos da Costa Neves, o “Gardenal”, e Washington Cesar Braga da Silva, o “Grandão”, atuam como intermediários diretos entre os líderes e o restante da organização. Eles transmitem as ordens de Doca e Pedro Bala aos demais integrantes que operam principalmente na zona norte do Rio de Janeiro.
Segundo o jornal, foram encontradas evidências nas mensagens investigadas de punições severas aplicadas a integrantes da própria organização. Em outras mensagens, mostram como Gardenal organizava a segurança de Doca. “Rapaziada, pegar a visão aqui portão do pai ninguém entra armado aqui dentro da casa e ninguém entra sem autorização”, diz ele uma das mensagens.
As investigações também revelaram práticas de tortura. Juan Pedro Malta Ramos Rodrigues, conhecido como “BMW”, foi identificado como responsável por coordenar treinamentos com fuzis, monitorar câmeras de vigilância no Complexo da Penha e supervisionar sessões de tortura.
Entre as evidências coletadas, a Folha de S.Paulo destacou que há uma imagem encontrada no celular de BMW que mostra uma mulher submersa em uma banheira de gelo. A legenda da foto dizia: “Pra brigona que gosta de arrumar confusão no baile paizão não quer bater em morador aí a melhor forma será essa“.
Segundo as informações da Folha, o material apreendido inclui um vídeo que mostra um homem amarrado e amordaçado sendo arrastado por um veículo, aparentemente como punição por ter delatado informações a um grupo rival.
Os investigadores também obtiveram dados que mostram como a facção administra suas operações. Os gerentes têm funções específicas que incluem a compra de armamentos, munições e equipamentos de vigilância como drones. Também ordenam a execução de subordinados e gerenciam a receptação de veículos roubados.
Leia quem são os 68 denunciados pelo MP-RJ nesta reportagem.
A operação Contenção foi deflagrada na 3ª feira (28.out) nos complexos do Alemão e da Penha, que reúnem 26 comunidades na zona norte do Rio. Entre as vítimas do balanço oficial estão 60 suspeitos de integrar o crime organizado e 4 policiais, incluindo o chefe da 53ª DP (Delegacia Policial de Mesquita), Marcus Vinicius. A ação tem como alvo a facção CV (Comando Vermelho).
A operação é considerada a mais letal da história do Estado, segundo o Geni/UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).
A operação contabilizou 113 pessoas presas, sendo 33 de outros Estados, além de 10 menores apreendidos. As forças de segurança recolheram 118 armas, das quais 91 são fuzis, e mais de uma tonelada de drogas.
Também contou com a participação de promotores do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). A ação foi deflagrada depois de mais de 1 ano de investigação conduzida pela DRE (Delegacia) de Repressão a Entorpecentes.
A PMERJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) participa com o COE (Comando de Operações Especiais) e com unidades operacionais da capital e da região metropolitana.





