“Cultura da impunidade”, desabafa autora de livro sobre Ninho do Urubu
Daniela Arbex escreveu o livro Longe do Ninho. Ao Metrópoles, ela falou sobre a absolvição dos réus que respondiam pela tragédia
A jornalista Daniela Arbex comentou, em conversa exclusiva com o Metrópoles, sobre a decisão da Justiça do Rio de Janeiro de absolver sete réus que respondiam pela morte de 10 jovens na tragédia no centro de treinamento do Flamengo, o Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro.
Os réus respondiam pelos crimes de incêndio culposo e lesão corporal. A decisão foi assinada pelo juiz Tiago Fernandes de Barros, da 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital.
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Quem são os absolvidos
Antonio Marcio Mongelli Garotti e Marcelo Maia: ocupavam cargos com ingerência na administração no CT
Claudia Pereira Rodrigues, Danilo da Silva Duarte, Fabio Hilario da Silva e Weslley Gimenes: responsáveis pelos contêineres destinados ao alojamento dos adolescentes
Edson Colman da Silva: responsável contratado para realizar a manutenção dos aparelhos de ar-condicionado
Inicialmente, 11 pessoas foram acusadas pelo incidente, no entanto, quatro delas já haviam sido absolvidas.
“O meu sentimento é de tristeza pelo fato de a justiça ter perdido mais uma vez a oportunidade de dar uma resposta para a sociedade. “, afirma Arbex.
Além de pontuar que Longe do Ninho “cumpre um papel fundamental de construção da memória coletiva do Brasil”, a jornalista, indicada ao Jabuti com a obra sobre a tragédia,
Os familiares estão devastados com a notícia dessa absolvição. Mas acreditam na revisão dessa sentença a partir do recurso do Ministério Público. Então isso ainda pode ser revertido.Daniela Arbex
A tragédia do Ninho do Urubu
O incêndio ocorreu na madrugada de 8 de fevereiro de 2019, em um alojamento improvisado dentro do Ninho do Urubu, em Vargem Grande.
Os garotos dormiam em contêineres adaptados, instalados em uma área sem alvará da prefeitura para funcionar como dormitório.
Segundo a perícia, as chamas começaram em um aparelho de ar-condicionado e se espalharam rapidamente devido ao material altamente inflamável que revestia as estruturas metálicas.
O fogo deixou 10 mortos e 16 sobreviventes, que conseguiram escapar por uma única porta.
As vítimas — com idades entre 14 e 16 anos — foram Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías.
“A memória foi construída e todo mundo que quiser saber o que aconteceu no dia 8 de fevereiro de 2019 dentro do contêiner do Flamengo é só acessar o livro, porque a gente conseguiu reconstituir aquela madrugada trágica, dar nome e rosto para cada vítima e falar de seus sonhos”, aponta.
“O mais importante de tudo isso é que Longe do Ninho é uma denúncia potente em relação à falta de condição dos clubes brasileiros — e não estou falando só do Flamengo —, de acolher a infância e a adolescência desses meninos e proteger a saúde mental de cada um. […] Eu acredito que uma das grandes contribuições de Longe do ninho foi provocar essa discussão sobre a saúde mental desses jovens”, finaliza.
Por: Metrópoles