Proibir queijos artesanais no novo decreto que libera alimentos do SIM em todo Brasil fere o princípio de que todos são iguais perante a lei e que todos serão submetidos às mesmas regras jurídicas.
Proibir queijos artesanais no novo decreto que libera alimentos do SIM em todo Brasil fere o princípio de que todos são iguais perante a lei e que todos serão submetidos às mesmas regras jurídicas. Há alguns dias, o Ministro da Agricultura Carlos Fávaro, na sua luta feroz para combater a fome no Brasil, decidiu liberar, para serem vendidos em todo país, os alimentos que têm registro no Sistema de Inspeção Municipal-SIM, ou seja, que são autorizados somente no seu município. Foi a glória para os pequenos produtores artesanais de queijo da associação SerTãoBras. Eles festejaram, enfim, a liberação da venda legal ao menos para cidades vizinhas, pois muitos nem têm essa ambição, nem volume, para vender em outros Estados.
Empresas brasileiras ampliam presença nos países do Golfo em 2024Burrata com pesto do Laticínios Garota Foto: Roberta Gusmão/Laticínios GarotaA festa não durou muito. Uma semana depois, o MAPA deixou claro que o decreto exclui a venda de queijos artesanais. “Eu tenho muitos pedidos de compra das minhas burratas em Itapetinga-BA, que é nossa cidade vizinha. Mas não posso vender, infelizmente, mesmo que meus queijos sejam feitos com todo capricho e higiene”, disse Whallas Correia Santos, do Laticínios Búfalas Garota, que fica em Itambé-BA. A Associação SerTãoBras contactou o Ministério da Agricultura, que respondeu que o assunto está sendo discutido internamente para busca de uma solução. window._taboola = window._taboola || [];
_taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Manta de muçarela do Laticínios Garota Foto: Roberta Gusmão/Laticínios GarotaEnquanto isso, em muitos sites de direita, mentes sanitaristas em pânico criticaram o governo por tentar acabar com a fome, alegando que liberar produtos de um município para outro poderia causar doenças. “A medida gera enorme preocupação sobre o controle sanitário e a qualidade dos produtos, já que os sistemas de inspeção existem justamente para garantir que os alimentos atendam aos padrões de segurança e higiene. (…) parece que agora a ideia é colocar a população em risco” disse uma reportagem de um site explicitamente de direita. Esqueceram que uma das bandeiras de Trump nos Estados Unidos é enterrar o FDA, a agência reguladora da comida americana, e assim liberar o leite cru integral para a população (bandeira que acaba sendo da esquerda no Brasil). Robert F. Kennedy Jr., o ativista antivacina escolhido para comandar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, já anunciou que as fazendas que transformam leite cru serão finalmente liberadas. Esqueceram que uma das bandeiras de Trump nos Estados Unidos é enterrar o FDA, a agência reguladora da comida americana, e assim liberar o leite cru integral para a população (bandeira que acaba sendo da esquerda no Brasil). Robert F. Kennedy Jr., o ativista antivacina escolhido para comandar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, já anunciou que as fazendas que transformam leite cru serão finalmente liberadas. Queijo canastra merendeiro fresco e curado dos produtores Eliane e Otinho, de São Roque de Minas Foto: Amanda Pereira/SerTãobras Enquanto isso, no Brasil, o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) manifestou preocupação em torno da medida anunciada. Esse desconforto é causado, desconfiamos, mais por um protecionismo de classe do que pela saúde do povo. Essa regra que um registro de queijaria municipal só permite vender na cidade da queijaria é sem fundamento: as autoridades sanitárias partem do princípio idiota que um queijo feito em Joanópolis-SP, por exemplo, pudesse adoecer um consumidor de Atibaia-SP. Vale lembrar que o 5° artigo da nossa constituição é que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Então por que alguém de uma cidade poderia ser exposto a um alimento e o da cidade vizinha não? A nós, consumidores urbanos, resta a subversão. Sim, vamos continuar a valorizar os pequenos produtores, comprando muitos queijos de leite cru, feito nas roças mais isoladas dos sertões brasileiros. Isso é fundamental para combater não somente a fome, mas principalmente essa epidemia de doenças da modernidade, causada por alimentos processados, esses sim autorizados pelas mentes sanitaristas. Comer é mais que nunca um ato político.
Autora: Débora Pereira Fonte: Estadão Conteúdo VEJA TAMBÉM: