Análise: novo livro de Vera Iaconelli mistura memórias e psicanálise
Em livro que já figura entre os mais vendidos na Amazon, Vera Iaconelli reflete sobre família, psicanálise e memória
Acostumada a ouvir histórias, Vera Iaconelli decidiu contar a própria. Em , a psicanalista entrelaça seu percurso no divã às marcas da história familiar e à construção de sua trajetória profissional.
“Quando a gente se analisa, é inescapável trazer esse histórico familiar. A escrita me proporcionou mais voltas nas minhas questões e foi profundamente analítica para mim”, conta a autora em entrevista ao Metrópoles.
Na obra, Vera revisita passagens íntimas, como a morte de dois irmãos e a relação com os pais, sempre relacionando memória individual e contexto psicanalítico. Em uma das páginas, ela avisa: não existe família perfeita.
“Não tem uma versão , porque essa versão tem esse efeito de tirar os dados de realidade. A idealização é um mecanismo de defesa (…) Ao reconhecer essa complexidade e o que cada família fez para resolver essas questões intrínsecas, é possível ter uma compreensão mais realista e, consequentemente, mais elaborada da própria trajetória familiar”.
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A psicanalista, mestre e doutora em psicologia pela também chama atenção para o fato de que falar sobre o passado é sempre falar do presente. “O que você conta da sua família aos 10 anos não é igual ao que conta aos 40. Essa elaboração é, na verdade, a elaboração de quem você se tornou.”
O sucesso de Análise, que chegou ao topo das listas de mais vendidos da Amazon, também surpreendeu a autora. “Não é uma surpresa que um livro de psicanálise seja lido, mas com certeza é uma surpresa que seja o meu. O retorno tem sido muito legal, porque os leitores estão se atendendo menos à minha história particular e mais à questão da análise que está em jogo ali..”
Segundo ela, o interesse do público reflete o momento atual: “As pessoas têm uma certa idealização da : todo mundo vai se tornar psicanalista. Tem uma questão neoliberal aí também, né? ‘Meu emprego é ruim, vou fazer um cursinho e vou me tornar psicanalista’. O que eu espero é que o livro mostre que não é disso que se trata, não é assim que se faz, ao mesmo tempo que revele tanto os limites da psicanálise quanto a potência da psicanálise”.
“São dois lados, né? Hora um acalhamento da psicanálise, hora uma exaltação. Não é nem isso nem aquilo: é um trabalho complexo, às vezes bizarro, e eu tento apresentar esse feedback. A aproximação com a psicanálise tem sido a coisa mais gratificante, disparado. E eu, para dizer a verdade, estou bem feliz de ter entregue. Foi um livro muito difícil de produzir. A escrita foi intensa por causa dos conteúdos que trouxe, mas tem sido como eu esperava — até superando em alguns sentidos. Tem sido muito gratificante”, conclui Vera.
Por: Metrópoles