Além de maior produtor mundial, Brasil pode elevar o uso de bioinsumos para 50%, diz Mariangela Hungria
Em debate na COP30, pesquisadora da Embrapa destaca que o país já lidera o uso de biológicos no campo, mas ainda explora apenas 15% do potencial do uso de bioinsumos — índice que poderia triplicar com estratégias de implementação voltadas a pequenos e médios produtores.
Em debate na COP30, pesquisadora da Embrapa destaca que o país já lidera o uso de biológicos no campo, mas ainda explora apenas 15% do potencial do uso de bioinsumos — índice que poderia triplicar com estratégias de implementação voltadas a pequenos e médios produtores. O Brasil vive um momento decisivo no avanço da agricultura sustentável. Durante um painel realizado na Agrizone — espaço dedicado às tecnologias verdes dentro da COP30, em Belém (PA) — a pesquisadora da Embrapa Soja, Mariangela Hungria, reforçou que o país não só é o maior usuário mundial de bioinsumos, como possui condições técnicas e científicas para elevar seu uso dos atuais 15% para 50%. A afirmação é sustentada por décadas de pesquisa, centenas de soluções já prontas para o campo e uma urgência cada vez maior por sistemas produtivos de baixo impacto ambiental. Segundo Hungria, o crescimento do mercado de biológicos no Brasil ocorre três a quatro vezes acima da média global, impulsionado pelo protagonismo do país em culturas como soja, milho, algodão e café. No entanto, o avanço ainda concentra-se nos grandes produtores, deixando uma lacuna importante entre agricultores familiares, que representam parte essencial da ocupação territorial e da produção de alimentos no país.
“ Existem soluções prontas que poderiam elevar esse índice para 50%, mas é preciso implementar de forma mais ampla e estratégica”, alertou a pesquisadora, reforçando a necessidade de políticas e modelos de assistência técnica capazes de democratizar o acesso aos biológicos. window._taboola = window._taboola || [];
_taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Por que o Brasil ainda usa apenas 15% do potencial dos bioinsumos Embora seja líder mundial no consumo de produtos biológicos, o Brasil ainda enfrenta obstáculos estruturais para ampliar essa participação. Hungria destacou que muitas tecnologias já foram validadas pela Embrapa para mais de 80 a 100 espécies vegetais, mas não chegam de maneira eficaz aos produtores de menor porte. Um dos gargalos está na oferta limitada do setor privado, que concentra seus esforços nas grandes culturas pela escala comercial mais atrativa. Essa concentração faz com que pequenos e médios agricultores não encontrem pacotes tecnológicos específicos para suas realidades, dificultando a adoção mais ampla. “ O pequeno e médio agricultor não tem acesso a pacotes voltados à propriedade dele, então precisamos discutir como implementar isso”, afirmou Hungria. Além disso, muitos produtores ainda dependem de assistência técnica tradicional — focada no manejo químico — e carecem de informação sobre segurança, eficiência e manejo adequado dos bioinsumos.
Foto: DivulgaçãoCrescimento acelerado, mas desigual Dados da CropLife Brasil, entidade que reúne 56 indústrias de bioinsumos e sementes, mostram que a área tratada com biológicos já alcançou 156 milhões de hectares no país. O setor cresce, em média, 15% ao ano, ritmo quatro vezes superior ao observado internacionalmente.
Para Mariangela Hungria, entretanto, o grande desafio passa a ser qualitativo — e não apenas quantitativo. A expansão entre pequenos e médios produtores, diz ela, será o divisor de águas para que o Brasil consolide sua liderança global com uma base verdadeiramente sustentável. “Eles são extremamente importantes em ocupação territorial, melhoria de qualidade de vida e geração de empregos”, reforçou. Embrapa leva “Casa da Agricultura Sustentável” à COP30 Um dos destaques da COP30 foi a Agrizone, espaço organizado pela Embrapa dentro da Embrapa Amazônia Oriental, que funcionou como vitrine das tecnologias sustentáveis brasileiras. A estrutura reuniu:
vitrines tecnológicas;
sistemas produtivos inovadores;
bioinsumos aplicados a diferentes espécies;
práticas de recuperação ambiental.
O ambiente atraiu produtores, pesquisadores, investidores e visitantes internacionais em busca de soluções sustentáveis aplicáveis em larga escala.
Bioinsumos além das lavouras: Embrapa amplia alcance para florestas Enquanto o debate sobre ampliar o uso dos bioinsumos avança, a própria Embrapa mostra que a fronteira da tecnologia vai muito além das lavouras de grãos. Pesquisadores da Embrapa Agrobiologia desenvolveram um bioinsumo multiespécies capaz de atender pelo menos 31 espécies florestais leguminosas, abrindo caminho para a restauração ecológica de áreas degradadas em todos os biomas brasileiros. Alguns pontos de destaque dessa inovação:
o produto foi selecionado a partir de duas das mais de 800 bactérias do solo isoladas pela Embrapa;
permite recompor solos degradados, inclusive áreas mineradas e regiões afetadas por erosões graves;
reduz custos e dispensa o uso de adubação nitrogenada mineral, diminuindo perdas de nitrogênio para o ambiente;
acelera a formação de vegetação e o retorno da biodiversidade.
O trabalho é resultado de décadas de pesquisa, e demonstra como o Brasil tem expertise para liderar a bioeconomia tropical.
Restauração ecológica e agricultura de baixo carbono: duas agendas que convergem A expansão dos bioinsumos no país não é apenas um movimento econômico, mas também estratégico do ponto de vista climático. Tanto para a intensificação sustentável nas lavouras quanto para a recuperação de áreas degradadas, os bioinsumos se consolidam como aliados centrais. Nas pesquisas da Embrapa Agrobiologia, por exemplo, áreas tratadas com microrganismos específicos mostraram:
controle de erosão após 12 meses;
formação de “floresta jovem” em 4 a 5 anos;
retorno da fauna e colonização por mais de 40 novas espécies vegetais em até 10 anos.
O que falta para chegar aos 50% de consumo de bioinsumos Para Mariangela Hungria, três pilares devem nortear o avanço: 1. Implementação ampla e coordenadaNão basta ter tecnologia — é preciso criar mecanismos que facilitem o acesso ao produtor. 2. Democratização do acessoAssistência técnica, capacitação e modelos de crédito específicos para bioinsumos são fundamentais. 3. Eliminação de gargalos regulatórios e logísticosDesde o registro até a distribuição, o setor exige modernização para ganhar escala. O Brasil já tem a ciência — agora falta transformar em política pública O Brasil possui a base científica, tecnológica e produtiva para triplicar o uso de bioinsumos no campo. Como mostrou o debate na COP30, a limitação não é técnica: é estratégica. As tecnologias existem, funcionam e já estão validadas pela Embrapa para culturas agrícolas e para a restauração florestal em todos os biomas.
Por: Redação
Artigos Relacionados:
Operações de crédito do BNDES chegam a R$ 230 bilhões
há 24 segundos
Agropecuária ajudou oito estados a crescerem mais que o Brasil em 2023
há 55 segundos
Brasil soberano já aprovou R$ 7,6 bi em créditos para 535 empresas
há 1 minuto
Semana Internacional do Café 2025 reforça o papel do Brasil como potência inovadora e sustentável no cenário global
há 1 hora
Henrique & Juliano, do Rancho 263, compram 100% do Projeto Seven Toro por R$ 13,2 milhões
há 2 horas
Zanin confirma investigação de autoridade com foro em esquema do STJ
há 2 horas
Moraes cita vistos e Magnitsky ao receber denúncia contra Eduardo
há 2 horas
Justiça reconhece venda casada e produtor obtém vitória contra cobrança de seguros indevidos
há 2 horas
Starlink lança mega promoção com internet grátis e alta velocidade no Brasil; veja detalhes
há 2 horas
Mapa lança curso EAD sobre sustentabilidade no campo em parceria com o IABS durante a COP30
há 2 horas
Veto à lei de licenciamento ambiental cria punição indireta e expõe milhões de produtores à insegurança
há 2 horas
Mercado de biodefensivos cresce 18%, para R$ 4,35 bilhões na safra 2024-25, aponta levantamento da Kynetec Brasil
há 3 horas
Brasil compartilha experiências em economia circular e sistemas integrados de produção durante a COP30
há 3 horas
FGV: bovinos, minério e soja pressionam inflação no atacado no IGP-10 de novembro
há 3 horas
Moraes vota para tornar Eduardo Bolsonaro réu por coação
há 3 horas
Na Blue Zone, Mapa realiza agendas bilaterais com Austrália e Organização Internacional do Café